Participação Política Institucionalizada: alguns resultados interessantes presentes na dissertação defendida recentemente por membro do COMPADD
O pesquisador COMPADD Tiago Borges defendeu em março sua dissertação de mestrado, entitulada “Quem, onde e como: uma revisão de escopo e análise cientométrica da literatura empírica brasileira em Participação Política Institucionalizada indexada na SciELO (2002-2020)”. O presente post objetiva trazer um pouco da metodologia e dos resultados do trabalho do membro do COMPADD.
Com um título autoexplicativo, o objetivo principal do trabalho é o de identificar quem, onde e como se estuda o tema no Brasil, porém aqui serão destacas apenas os resultados para variáveis específicas sobre as questões “quem” e “como”, que envolvem: sexo do(a) autor(a), área de atuação do(a) autor(a) e método utilizado.
Por literatura empírica sobre Participação Política Institucionalizada, o autor entende aqueles estudos empíricos que estudam a participação política subsidiada pelas instituições políticas tradicionais, como orçamentos participativos, conselhos e conferências de políticas públicas, planos diretores, entre outros. Em essência, foram analisados artigos que estudam empiricamente essas instituições participativas e inovações democráticas.
Essa análise foi realizada à luz da cientometria e da Análise de Conteúdo. Nesse sentido, após uma seleção manual onde foram excluídos documentos que não tratavam sobre o tema em questão, foi realizada a Análise de Conteúdo categorial de 116 artigos. A variável referente ao sexo dos autores contém duas categorias: feminino e masculino. Para identificar a área de atuação dos autores utilizou-se dos dados contidos nas mini biografias dos autores normalmente presentes nos artigos. Na ausência desses, recorreu-se à busca dos currículos dos autores na Plataforma Lattes. O método foi categorizado como quantitativo, qualitativo ou misto.
A análise dos dados aponta para a predominância feminina entre autores. Como visto na Tabela 1, a presença feminina na produção brasileira sobre Participação Política Institucionalizada supera a masculina em pouco mais de 20%. Por sua vez, como visto na Tabela 2, as principais áreas de atuação identificadas foram as Ciências da Saúde (26%) e a Ciência Política (19,4%).
Tabela 1: Sexo do(a) autor(a)
N | % | |
Feminino | 147 | 60,7% |
Masculino | 95 | 39,3% |
Fica clara a interdisciplinaridade do tema, mas destaca-se a predominância das Ciências da Saúde. Essa dominância já havia sido observada em revisões anteriores similares. Almeida, Cayres e Tatagiba (2015) já apontavam para a forte participação da área da Saúde no estudo sobre os conselhos de políticas públicas.
Tabela 2: Área de atuação do(a) autor(a)
N | % | |
Ciências da Saúde | 63 | 26,0% |
Ciência Política | 47 | 19,4% |
Outros | 36 | 14,9% |
Administração | 27 | 11,2% |
Ciências Sociais | 24 | 9,9% |
Sociologia | 12 | 5,0% |
Campo de Públicas | 12 | 5,0% |
Ciências Econômicas | 10 | 4,1% |
Comunicação | 6 | 2,5% |
Ciência da Informação | 2 | 0,8% |
Relações Internacionais | 2 | 0,8% |
Direito | 1 | 0,4% |
Para aprofundar a análise do perfil de autores, essas variáveis foram cruzadas. Dessa forma pode-se verificar a distribuição de autores e autoras por área de pesquisa, como visto no Gráfico 1, abaixo. Percebe-se como a área das Ciências da Saúde é dominada pela presença feminina. Na Ciência Política, ainda que haja certo equilíbrio, a maioria feminina surpreende, visto que no Brasil tanto a docência quanto a produção acadêmica na área são dominadas pelo sexo mascullino (CAMPOS, 2021).
Gráfico 1: Sexo do(a) autor(a) por área de atuação
O tipo de método mais utilizado, como visto na Tabela 3, foi o qualitativo, presente em 40,5% dos artigos. Quase metade dos trabalhos empíricos analisados utilizaram exclusivamente técnicas de pesquisa de natureza qualitativa, como entrevistas, grupos focais e até análises de conteúdo e documentais qualitativas.
Tabela 3: Método utilizado
N | % | |
Qualitativo | 47 | 40,5% |
Quantitativo | 35 | 30,2% |
Misto | 34 | 29,3% |
Essa predominância do método qualitativo também foi verificada em revisões anteriores. Paiva, van Stralen e Costa (2014) e Valmore e Souza (2016) também observaram a proeminência desse tipo de método em suas revisões sobre participação social na saúde e instituições participativas, respectivamente. Ainda, a análise cientométrica de Sampaio et al (2022) também identificou a dominância do método qualitativo na literatura empírica sobre Democracia Digital.
Concluindo, a dissertação encontra um perfil de pesquisadores em Participação Política Institucionalziada predominantemente do sexo feminino, presente principalmente nas Ciências da Saúde e na Ciência Política, cujo método de pesquisa majoritariamente empregado é o qualitativo. É importante ressaltar que os dados aqui apresentados são referentes a codificação de artigos coletados de apenas uma coleção de uma base de dados específica: a coleção SciELO Brazil, da SciELO, que é uma base rigorosa em seu processo de indexação. Nesse sentido, a dissertação abre espaço para estudos mais aprofundados, seja com análises de conteúdo mais detalhadas dos artigos, seja na busca em outras bases de dados. Assim será possível analisar o rigor metodológico, a replicabilidade, validade, o conhecimento gerado entre outros fatores importantes para a área de estudo.
Referências
ALMEIDA, C.; CAYRES, D. C.; TATAGIBA, L. Balanço dos estudos sobre os conselhos de políticas públicas na última década. Lua Nova, v. 1, n. 94, p. 255–294, 2015
CAMPOS, L. A. Atlas Digital das Ciências Sociais. Disponível em: <http://atlas.anpocs.com/>. Acesso em: 15 fev 2022
PAIVA, F. S. DE; VAN STRALEN, C. J.; COSTA, P. H. A. DA. Participação social e saúde no Brasil: Revisão sistemática sobre o tema. Ciencia e Saude Coletiva, v. 19, n. 2, p. 487–498, 2014.
SAMPAIO, R.; FREITAS, C.; KLEINA, N.; MARIOTO, D.; NICHOLS, B.; BORGES, T.; ALISON, M.; BOZZA, G.; HAUSEN, V. O campo da democracia digital brasileira: uma análise cientométrica de artigos publicados entre 1999 e 2020. RBCP, 2022.
VALMORE, F.; SOUZA, N. R. DE. Movimentos sociais, instituições participativas e sociedade civil em sete periódicos nacionais (Qualis A1, A2 e B1), 2005-2014. Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais – BIB, n. 82, p. 105–126, 2017